O posicionamento da criança ao se deitar determina uma condição muito comum e de importante repercussão.
A plagiocefalia posicional, também conhecida como plagiocefalia não sinostótica ou plagiocefalia deformacional é uma anormalidade da simetria craniana da criança. Na década de 90 esta anormalidade passou a ficar mais frequente em função da campanha da academia americana de pediatria, “back to sleep”, a qual recomendou que os recém-nascidos passassem a dormir em decúbito dorsal, para evitar a síndrome da morte súbita do lactente. No entanto, esta posição supina da cabeça pode promover a anormalidade craniana, devido à pressão mecânica sobre as suturas.
As suturas do recém-nascido são compostas por tecido fibro-elástico, que é maleável e permite o crescimento do crânio à medida que o bebê se desenvolve e aumenta o seu volume cerebral. Em função da sua resiliência, alterações mecânicas no crânio podem levar à deformidades. Para maiores informações acerca do crânio normal da criança, consultar: O crânio da criança.
A plagiocefalia posicional pode ter origem ainda intra-útero, em função do posicionamento do crânio da criança, especialmente em casos de posição pélvica ou em partos distócicos. No entanto, a maioria recupera dentro das primeiras semanas o formato craniano normal. Desta maneira, a maioria dos casos que seguem com a plagiocefalia posicional, são os recém-nascidos que adquirem uma força mecânica posicional ao longo dos primeiros meses de vida, tendo prevalência máxima até os 4 meses de idade.
Com o posicionamento repetitivo da cabeça para um dos lados, além do achatamento parietal, verifica-se anteriorização no posicionamento da orelha (que permanece no mesmo nivelamento horizontal com a orelha contralateral) e da região frontal. Do lado contrário, pode-se notar uma bossa parietal compensatória.
Na investigação da criança com plagiocefalia, devemos diferenciar a condição posicional da condição secundária à fusão precoce da sutura lambdóidea (cranioestenose lambdóidea). Ver mais detalhes em cranioestenose lambdóidea – plagiocefalia posterior. No caso da cranioestenose lambdóidea, observa-se deslocamento superior da região parietal contralateral (bossa parietal), deslocamento inferior da região occipital ipsilateral (bossa occipital) e da base do crânio, interferindo no posicionamento da orelha (deslocamento inferior) e podendo levar à disfunção cervical compensatória.
Em caso de alguma suspeita de anormalidade nas suturas ou fontanelas, a criança precisa ser avaliada por especialista, pois através da palpação da fontanela pode-se estimar se há algum indício de hipertensão intracraniana, pela análise do formato do crânio permite-se inferir se alguma sutura está fechada precocemente (cranioestenose) e através da presença de outros estigmas associados (como diferente posição das orelhas, formato assimétrico do posicionamento dos globos oculares, etc.) pode-se inferir a possibilidade de síndrome genética. Alguns exames de imagem são utilizados, como RX de crânio, tomografia de crânio com reconstrução 3D ou ressonância de crânio, nos quais se observa o comportamento das suturas e fontanelas.
O tratamento da plagiocefalia posicional consiste em orientações acerca do correto posicionamento da cabeça da criança. A grande maioria dos casos apresenta resolução em torno do 6º mês de vida, quando o diagnóstico e as recomendações são aplicadas logo no início da vida. Em raros casos pode ser necessário o uso de capacete para correção, porém seu uso é questionável por muitos especialistas em função de seu caráter estigmatizante. No caso da cranioestenose lambdóidea, o tratamento é cirúrgico. Para maiores informações, consultar cranioestenose lambdóidea – plagiocefalia posterior.
Referências:
- Borad V, Cordes EJ, Liljeberg KM, Sylvanus TS, Lim PK, Wood RJ. Isolated Lambdoid Craniosynostosis. J Craniofac Surg. 2019; 30(8):2390-2392. doi:10.1097/SCS.0000000000006058.
- Haas-Lude K, Wolff M, Will B, Bender B, Krimmel M. Clinical and imaging findings in children with non-syndromic lambdoid synostosis. Eur J Pediatr. 2014;173(4):435-440. doi:10.1007/s00431-013-2186-1
- Huang M, Gruss, J, Clarren, S, Mouradian, WE, Roberts, TS, Loeser, JD, Cornell, CJ. The Differential Diagnosis of Posterior Plagiocephaly: True Lambdoid Synostosis versus Positional Molding. Plastic and Reconstructive Surgery. 1996; 98(5): 765-774.
- Hurmerinta K, Kiukkonen A, Hukki J, Saarikko A, Leikola J. Lambdoid Synostosis Versus Positional Posterior Plagiocephaly, a Comparison of Skull Base and Shape of Calvarium Using Computed Tomography Imaging. J Craniofac Surg. 2015;26(6):1917-1922. doi:10.1097/SCS.0000000000002098.
- Jabs EW. Toward understanding the pathogenesis of craniosynostosis through clinical and molecular correlates. Clin Genet. 1998; 53(2):79-86. doi:10.1111/j.1399-0004.1998.tb02648.x.
- Kajdic N, Spazzapan P, Velnar T. Craniosynostosis – Recognition, clinical characteristics, and treatment. Bosn J Basic Med Sci. 2018;18(2):110-116. doi:10.17305/bjbms.2017.2083.
- Massimi L, Bianchi F, Frassanito P, Calandrelli R, Tamburrini G, Caldarelli M. Imaging in craniosynostosis: when and what?. Childs Nerv Syst. 2019;35(11):2055-2069. doi:10.1007/s00381-019-04278-x.
- Mulliken JB, Vander Woude DL, Hansen M, LaBrie RA, Scott RM. Analysis of posterior plagiocephaly: deformational versus synostotic. Plast Reconstr Surg. 1999;103(2):371-380. doi:10.1097/00006534-199902000-00003.
- Pekçevik Y, Hasbay E, Pekçevik R. Three-dimensional CT imaging in pediatric calvarial pathologies. Diagn Interv Radiol. 2013;19(6):488-494. doi:10.5152/dir.2013.13140.
- Rhodes JL, Tye GW, Fearon JA. Craniosynostosis of the lambdoid suture. Semin Plast Surg. 2014;28(3):138-143. doi:10.1055/s-0034-1384809.
Aviso: As informações expressas são apenas de caráter informativo. São baseadas em estudos científicos e experiência clínica. Os resultados não são necessariamente presentes em todos os indivíduos. Autotratamento não é recomendado. Para a melhor escolha do tratamento, é fundamental a consulta com o especialista.