Dores na região occipital (porção posterior de nossa cabeça) são uma condição comum, muitas vezes repetitivas e intensas.
Entendendo a inervação craniocervical
A sensibilidade do nosso couro cabeludo é atribuída à uma rede neural esparsa em íntimo contato com as camadas que revestem nosso crânio (pele, tecido conector denso, gálea aponeurótica, tecido subaponeurótico e pericrânio). A sua inervação é proveniente de ramos do nervo trigêmeo (V nervo craniano), do nervo occipital menor e terceiro occipital (plexo cervical) e do occipital maior (ramo dorsal da coluna cervical C2). O nervo occipital maior é o principal nervo sensitivo para a área occipital (região posterior da nossa cabeça) e é associado mais frequentemente à nevralgia occipital (cefaleia cervicogênica).
A manifestação da dor
A maioria queixa-se de dor na região posterior da cabeça, entre o pavilhão auditivo e a linha média, uni ou bilateral, que se propaga para a região posterior e superior da cabeça e por vezes até a região frontal.
A descrição é de dor em pontada, pulsátil ou em queimação. Pode ocorrer durante todo o dia e à noite, em intervalos longos ou curtos. Geralmente é leve, mas com alguns episódios lancinantes agudos. Costuma haver também dor cervical alta, principalmente à palpação. Melhora um pouco com analgésicos ou anti-inflamatórios. Por vezes apresenta náuseas e fotofobia (irritabilidade ou aumento de intensidade com a exposição à luz).
As causas das dores
Por se tratar de inervação sensitiva, qualquer comprometimento ao longo do trajeto do nervo poderá provocar as dores. Como existem contribuições de outras inervações, como do occipital menor, do terceiro maior e mais anteriormente do trigêmeo, lesões nesses nervos também podem manifestar dor no território do occipital maior.
A compressão sobre o nervo é a principal causa, especialmente se for crônica, como pelo uso de capacete, por postura inadequada ao dormir (travesseiro mal adaptado), hábito de apoiar cabeça e cervical sobre superfícies duras ou irregulares (deitar em sofás), tensão muscular cervical, dentre outras. Outra forma de compressão é a arterial, especialmente em indivíduos com hipertensão arterial, em que o aumento da pulsação pode comprimir a inervação, uma vez que elas caminham próximas e às vezes em íntimo contato. Traumatismo craniano ou de coluna cervical também podem culminar com as dores, uma vez que há lesão direta sobre a inervação. Presença de escoliose ou cifose cervical, espasmos musculares, hérnia discal e, menos frequentemente, tumores ou infecções cervicais também são associadas.
O tratamento
O tratamento da nevralgia é multifatorial. Aconselhamento acerca da postura durante atividades de vida diária, bem como correção de fatores de risco ou doenças que forem identificadas durante a investigação. Fisioterapia cervical (adequação postural, liberação miofascial, fortalecimento muscular isométrico). Medicamentos analgésicos, moduladores de dor neuropática (antidepressivos, antiepilépticos), relaxantes musculares. Bloqueio anestésico e/ou anti-inflamatório na sintopia neural. Bloqueio com toxina botulínica no pericrâniano e na musculatura adjacente. Menos frequentemente, neurólise por radiofrequência e procedimentos cirúrgicos para liberação neural ou sua exclusão. Uma análise cuidadosa de cada caso é fundamental para uma correta escolha terapêutica.
Para maiores informações, favor consultar as referências abaixo:
Referências
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Aviso: As informações expressas são apenas de caráter informativo. São baseadas em estudos científicos e experiência clínica. Os resultados não são necessariamente presentes em todos os indivíduos. Autotratamento não é recomendado. Para a melhor escolha do tratamento, é fundamental a consulta com o especialista.