Ressecção de lesões epileptogênicas

Diversas lesões cerebrais podem se manifestar com crises convulsivas. Desta maneira é indispensável a correta localização da zona epileptogênica e sua correlação com os exames de imagem. Em virtude da complexidade em sua abordagem, costuma-se diferenciar em lesões hipocampais e extra-hipocampais.

Lesões de origem no hipocampo

As lesões originarias da região hipocampal geralmente culminam com crises convulsivas refratárias ao tratamento medicamentoso.

O hipocampo é uma estrutura funcionalmente rica, sendo responsável pela percepção olfatória e pela memória, dentre outras. Ele é uma estrutura complexa que ocupa a porção medial do assoalho do corno temporal, formando um arco ao redor do mesencéfalo. Anatomicamente, pode ser dividido em cabeça, corpo e cauda ou ainda em archeo-cortex e paleo-cortex. O neo-cortex adjacente pode também ser responsável pelas crises.

As epilepsias de origem no lobo temporal são geralmente manifestadas por crises parciais complexas, com componentes viscerais, como dores, sensações abdominais, bradicardia, etc, bem como ondas lentas ao eletroencefalograma.

As lesões mais encontradas nesta região são:

  • Esclerose mesial temporal: as crises começam na infância, tornando-se fármaco-resistentes tardiamente, podendo ser resultado de convulsões febris da infância.
  • Displasias corticais: geralmente presentes no lobo temporal, elas correspondem à déficit de organização das diferentes camadas do córtex, durante a sua gênese e crescimento.
  • Tumores: geralmente tumores gliais de baixo grau, astrocitomas, ganglioglioma ou DNET.

A indicação cirúrgica é baseada na associação concordante entre as características das crises e da imagem. Em caso de discordância, uma monitorização invasiva pode ser necessária.

A cirurgia consiste em uma ressecção anatômica e funcional, geralmente englobando o hipocampo, a amigdala e o polo temporal. Em casos de Esclerose mesial temporal, uma das técnicas mais utilizadas para ressecar estas estruturas é a amígdalo-hipocampectomia seletiva.

Lesões epileptogênicas extra-hipocampais

As lesões extra-hipocampais são todas aquelas esparsas pelo córtex cerebral, sendo de etiologia tumoral (geralmente tumores de baixo grau, menos agressivos, com crescimento lento) ou não tumoral, como displasias (malformações estruturais do cérebro). Muitas vezes o diagnóstico definitivo se faz após a cirurgia, por análise histopatológica.

Ressonância magnética de crânio, sequência T2, demonstra lesão displásica cortical

A cirurgia tem por objetivo saber a etiologia exata da lesão, através de estudo histopatológico, de remover a lesão e de tratar a epilepsia. Ela é indicada após o estudo do tipo de crises, das suas características, sobretudo relacionadas à fármaco-resistência e das características da imagem.

O seguimento geralmente é marcado por remissão das crises, uma vez que o agente agressor ao córtex foi retirado, porém o paciente pode ainda apresentar crises, necessitando manter os anticonvulsivantes. Dependendo da área funcional afetada, o indivíduo pode apresentar déficits no pós operatório, como de linguagem, visual ou de marcha, bem como síndrome depressiva ou cognitiva (relacionada com a hipocampectomia). Por esta razão, cada caso deve ser analisado com muito critério.

Sendo o resultado da histopatologia compatível com tumor, o tratamento pode continuar com quimioterapia e/ou radioterapia, a depender da avaliação oncológica. Caso uma displasia seja detectada, geralmente o tratamento é finalizado com a cirurgia.

Saiba mais:

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Aviso: As informações expressas são apenas de caráter informativo. São baseadas em estudos científicos e experiência clínica. Os resultados não são necessariamente presentes em todos os indivíduos. Autotratamento não é recomendado. Para a melhor escolha do tratamento, é fundamental a consulta com o especialista.

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