A hemisferotomia consiste em um procedimento de desconexão de segmentos específicos do cérebro com o objetivo de impedir a propagação da crise convulsiva. Ela é indicada para casos de epilepsia refratária ao tratamento medicamentoso e quando o foco da crise é localizado em um único hemisfério cerebral.
Certas lesões levam à epilepsia com foco em todo o hemisfério cerebral (direito ou esquerdo), podendo beneficiar-se da hemisferotomia:
- Ligadas ao desenvolvimento cerebral: malformações do desenvolvimento cortical e Hemimegalencefalia
- Adquiridas: Acidente vascular isquêmico perinatal
- Progressivas: Síndrome de Sturge Weber e Encefalite de Rasmussen
Na maioria dos casos os déficits neurológicos já são existentes na investigação pré-operatória, sendo os mais frequentes: hemiparesia, problemas visuais, retardo em aquisição de linguagem ou cognitivo. As crises evoluem em função da idade da criança, podendo caracterizar-se por espasmos, crises tonico-clônicas, ausência ou crises parciais.
A investigação pré-cirúrgica deve demonstrar a origem unilateral e hemisférica das crises, correlacionada com EEG ou vídeo-EEG e uma ressonância de crânio compatíveis. A repercussão da epilepsia deve ser fortemente relacionada com a qualidade de vida e com a cognição (por esta razão, testes neuropsicológicos são necessários). As consequências pós cirúrgicas são ligadas à hemiparesia, hemianopsia e distúrbio cognitivo. Por esta razão, em caso de qualquer dúvida ou divergência entre exames ou entre os pares (neurologista, psicólogo), a indicação é desconsiderada e novos exames, como implantação de eletrodos cranianos por estereotaxia (S-EEG) pode ser proposta.
Representação de fibras e tratos neuronais, pelos quais as infinitas funções que o cérebro executa são trafegadas.
A técnica cirúrgica visa isolar o córtex patológico, desconectando o hemisfério cerebral doente, ao seccionar as vias de associação inter-hemisféricas (corpo caloso, comissura anterior), as conexões tálamo-corticais e dos gânglios da base, as vias de projeção (braço anterior, joelho e braço posterior da cápsula interna) e as estruturas límbicas (fornix e amigdala). A abordagem cirúrgica varia de acordo com a preferência do cirurgião, mas todas passam por acessar o sistema ventricular, via transylviana peri-insular ou sagital, inter-hemisférica (preferência deste que descreve).
A evolução pós operatória costuma ser mais favorável quando a cirurgia é realizada o mais precoce possível, sobretudo ao nível do QI, quando analisada à longo prazo. A taxa de sucesso é elevada, estimada em 80% no controle das crises. Como os déficits ligados à desconexão são esperados, com agravação dos sinais neurológicos, como déficit motor, visual, memória e linguagem, dependendo do hemisfério acometido, a reabilitação física/neurológica faz parte do seguimento pós operatório, com boa recuperação e readaptação à longo prazo.
Saiba mais:
- Baumgartner, J.E., Blount, J.P., Blauwblomme, T. and Chandra, P.S. (2017), Technical descriptions of four hemispherectomy approaches: From the Pediatric Epilepsy Surgery Meeting at Gothenburg 2014. Epilepsia, 58: 46-55. https://doi.org/10.1111/epi.13679
- Young, C. C., Williams, J. R., Feroze, A. H., McGrath, M., Ravanpay, A. C., Ellenbogen, R. G., Ojemann, J. G., & Hauptman, J. S. (2020). Pediatric functional hemispherectomy: operative techniques and complication avoidance, Neurosurgical Focus FOC, 48(4), E9. Retrieved Jan 18, 2022. https://thejns.org/focus/view/journals/neurosurg-focus/48/4/article-pE9.xml
- Blauwblomme, T, Demertzi, A, Tacchela, J-M, et al. Complete hemispherotomy leads to lateralized functional organization and lower level of consciousness in the isolated hemisphere. Epilepsia Open. 2020; 5: 537– 549. https://doi.org/10.1002/epi4.12433
- Lerner JT, Salamon N, Hauptman JS, Velasco TR, Hemb M, Wu JY, et al. Assessment and surgical outcomes for mild type I and severe type II cortical dysplasia: a critical review and the UCLA experience. Epilepsia. 2009;50(6):1310-35. doi: 1111/j.1528-1167.2008.01998.x
- Varadkar S, Bien CG, Kruse CA, Jensen FE, Bauer J, Pardo CA, et al. Rasmussen’s encephalitis: clinical features, pathobiology, and treatment advances. The Lancet Neurology. 2014;13(2):195-205. doi: 1016/S1474-4422(13)70260-6
- Delalande O, Bulteau C, Dellatolas G, Fohlen M, Jalin C, Buret V, et al. Vertical parasagittal hemispherotomy. Neurosurgery. 2007;60. doi: 1227/01.NEU.0000249246.48299.12
- Alotaibi, F., Albaradie, R., Almubarak, S., Baeesa, S., Steven, D., & Girvin, J. (2021). Hemispherotomy for Epilepsy: The Procedure Evolution and Outcome. Canadian Journal of Neurological Sciences / Journal Canadien Des Sciences Neurologiques, 48(4), 451-463. doi:10.1017/cjn.2020.216
Aviso: As informações expressas são apenas de caráter informativo. São baseadas em estudos científicos e experiência clínica. Os resultados não são necessariamente presentes em todos os indivíduos. Autotratamento não é recomendado. Para a melhor escolha do tratamento, é fundamental a consulta com o especialista.