Com os principais objetivos de promover uma melhor fluidez na marcha e atenuar deformidades ortopédicas ao longo do tempo, a Rizotomia Dorsal Seletiva é um procedimento neurocirúrgico que consiste em seccionar algumas raízes lombares especificas, estimuladas através de monitorização neurofisiológica, conferindo melhora na espasticidade.
A espasticidade
A espasticidade é a rigidez muscular anormal devido à contração muscular prolongada. É um sintoma associado a danos no cérebro, medula espinhal ou nervos periféricos. Ela é mais comumente observada em indivíduos com Paralisa Cerebral, que sofreram AVC (acidente vascular isquêmico), vítimas de traumatismo no crânio e medula e em pacientes com Esclerose Múltipla. A espasticidade pode afetar os músculos de qualquer parte do corpo, mas é mais comum nos grupos musculares dos membros inferiores. Os sintomas podem variar entre os indivíduos e podem ser dolorosos, desfigurantes e incapacitantes.
Para quem?
Crianças com Paralisia Cerebral e espasticidade predominando em membros inferiores, assim como adultos com espasticidade e que conseguem caminhar com auxílio são os principais beneficiários da Rizotomia Dorsal Seletiva.
Uma revisão detalhada do período neonatal, assim como do desenvolvimento neurológico, condições da marcha, seu progresso e limitações são de fundamental importância para se predizer o prognóstico que a técnica cirúrgica pode alcançar. A espasticidade é a causa maior da dificuldade de marcha ou ela é a única causa da hipertonia muscular? Ela vem acompanhada de deformidades ortopédicas?
A investigação
Exames radiológicos do crânio (como ressonância magnética ou tomografia) são importantes no quesito diagnóstico ou exclusão da causa primária da espasticidade, caso ela ainda não tenha sido realizada. Eles normalmente acusarão regiões sequelares de isquemia, desmielinização ou malformações encefálicas. Embora raro, pacientes com dano severo nos gânglios da base podem apresentar rigidez associada à espasticidade, não sendo beneficiados pela cirurgia. Os exames da coluna não são de suma importância, entretanto podem demonstrar anormalidades congênitas, escoliose ou hiperlordose, que não afetam primariamente a decisão terapêutica.
A fisioterapia
O histórico de atividades fisioterápicas também é fundamental para se conhecer a progressão do cuidado e do estímulo à marcha que a criança/adolescente foi submetida, visto que grande parte da atrofia/hipertrofia pode ser compensada com a fisioterapia e a Rizotomia Dorsal Seletiva pode vir a somar no desempenho. Diferentes escalas e testes são realizados como auxílio para tomada de decisão e também como base pré-operatória e seguimento, como a escala para espasticidade Ashworth, para funcionalidade GMFCS, para força muscular MFT, índex de massa corporal, dentre outras.
A cirurgia
A Rizotomia Dorsal Seletiva é realizada com uma pequena incisão lombar, para acesso microcirúrgico às raízes próximas ao cone medular. São realizados estímulos elétricos, de maneira seletiva, em cada raiz, de modo a se identificar aquelas que contribuem para a espasticidade, tendo a sua função excluída. Para o procedimento, é necessário anestesia geral e o paciente permanece no hospital entre 4 e 5 dias no pós operatório.
Deve-se seguir com atividade fisioterápica com alvo de melhora gradual na espasticidade e por consequência na marcha.
A primeira imagem corresponde à laminotomia (retirada de porção óssea do segmento posterior da coluna), com a dura-máter exposta. Na segunda imagem, a dura-máter já foi aberta e há a exposição das raízes, que serão estimuladas e seccionadas seletivamente. Imagem disponível em: Park TS, Johnston JM. Surgical techniques of selective dorsal rhizotomy for spastic cerebral palsy. Technical note. Neurosurg Focus. 2006 Aug 15;21(2):e7. PMID: 16918228.
Saiba mais
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