Considerações gerais sobre tumores cerebrais em adultos

Algumas considerações gerais sobre essa temida doença cerebral!

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O que é um tumor cerebral?

Um tumor cerebral é um volume de tecido anormal presente na cavidade intracraniana, ao redor ou dentro do cérebro, composto por células que crescem e se multiplicam de maneira incontrolável, driblando mecanismos de proteção das células normais de nosso cérebro. Existe uma grande variedade de tumores cerebrais e podemos dividi-los em duas classes: os primários (que nascem na cavidade intracraniana) e os metastáticos (que são provenientes de outros locais corporais, como pulmão, mama, etc).

Os tumores primários se originam dos tecidos cerebrais ou dos componentes que circulam o cérebro (dura-mater, cavidade óssea). Eles são categorizados como subtipos gliais (compostos por células da glia neuronal) ou não gliais (se desenvolvem de estruturas que estão também presentes no cérebro, como nervos, vasos sanguíneos, glândulas). Além disso, são classificados como benignos ou malignos.

Já os tumores de origem metastática, por sua natureza mais agressiva, são considerados malignos. Há uma estimativa que 1 em cada 4 indivíduos com câncer desenvolve metástase para o cérebro.

Tipos de tumores cerebrais benignos

Esta imagem representa um tumor benígno. O tumor (em azul) é encapsulado, não invade o cérebro (em rosa) e suas células são parecidas com as células normais.

Meningiomas: são os tumores benígnos intracranianos mais comuns. Originam-se das meninges cerebrais, mais especificamente da aracnóide cerebral que é uma membrana que reveste o cérebro e a medula espinhal. O tratamento usual é a ressecção cirúrgica.

Tumores hipofisários: são tumores que se originam na glândula hipófise (estrutura que regula diversos hormônios corporais). O mais comum é o Adenoma hipofisário. Na maioria dos casos, quando necessária, a ressecção é possível via transesfenoidal (acesso pelo nariz).

Craniofaringiomas: apesar de benignos, sua localização adjacente à estruturas cerebrais críticas e profundas confere um difícil tratamento, usualmente com ressecção parcial e seguimento quimioterápico.

Cordomas: são tumores que se desenvolvem mais frequentemente na base do crânio e porção baixa da coluna. São raros (0,2% de todos os tumores primários do cérebro), de crescimento lento, mas podem invadir estruturas ósseas adjacentes com compressão local.

Schwannomas: desenvolvem-se ao longo de nervos intracranianos, principalmente o nervo vestíbulo-coclear, que possui trajeto em direção ao ouvido interno. Podem também acometer nervos extracranianos.

Tumores do glômus jugular: tipicamente localizados na base do crânio, no topo da veia jugular interna.

Pineocitomas: originam-se nas células da glândula pineal (estrutura responsável pela síntese da melatonina). São geralmente de crescimento lento e não invasivos.

Tipos de tumores cerebrais malignos

Esta imagem representa um tumor maligno. O tumor (em azul) não está encapsulado, invade o cérebro (em rosa) e suas células diferentes das células normais.

Gliomas são os tumores malignos cerebrais mais comuns. São subdivididos em:

Astrocitomas: são os mais frequentes, predominam em adultos com um padrão celular de maior gravidade. Nas crianças, também são frequentes mas têm comportamento menos agressivo.

Ependimomas: ocorrem mais frequentemente nas células adjacentes ao sistema ventricular cerebral.

Glioblastomas: subtipo mais invasivo e agressivo dos tumores. Tendem a crescerem rapidamente e espalharem-se pelo tecido cerebral. São mais comuns em pessoas entre 50-70 anos.

Meduloblastomas: geralmente se originam no cerebelo. São mais comuns em crianças. Apesar de serem tumores de alto grau, são responsivos à terapia complementar (radioterapia, quimioterapia).

Oligodendrogliomas: são derivados de células que produzem a mielina. Apresentam crescimento lento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu um sistema de graduação para indicar a benignidade ou malignidade dos tumores cerebrais de acordo com as características histológicas (graus 1, 2, 3 e 4). Em 2016, os avanços moleculares e genéticos foram incluídos às classificações existentes, o que aprimorou o entendimento dos subtipos tumorais.

Diretrizes diagnósticas e terapêuticas de tumor cerebral em adultos. Ministério da Saúde. Portaria nº 7, de 13 de abril de 2020.

Localizações mais frequentes dos tumores primários malignos

A maioria dos tumores primários malignos estão presentes no córtex cerebral, majoritariamente no lobo frontal (26%), como demonstra a figura abaixo:

Breaking down the epidemiology of brain cancer. Nature 561, S40-S41 (2018). doi: 10.1038/d41586-018-06704-7

Origens mais frequentes das metástases

As metástases para o cérebro podem se originar de diversos órgãos, sendo o mais prevalente sítio os pulmões, como demonstra a figura abaixo:

National Brain Tumor Society (NBTS). Quick Brain Tumor Facts (NBTS, 2018).

Frequência dos tumores cerebrais de acordo com o gênero e a idade

Sabemos que há diferença na incidência de câncer cerebral de acordo com a idade e o sexo, mas ainda não há uma causa precisa dessas diferenças. Entre os tumores malignos, a maioria (55%) ocorre nos homens. Já entre os benignos, a maioria (64%) está presente nas mulheres, como demonstrado na figura abaixo :

Ostrom, Q. T. et al. Neuro Oncol. 17 (suppl.), iv1–iv62 (2015).

As causas dos tumores cerebrais

Fundamentalmente, os tumores cerebrais se originam de certos genes de cromossomos de células danificadas ou que não funcionam corretamente. Geralmente, esses genes possuem a função de regular a taxa de divisão celular e de reparar os genes que corrigem defeitos de outros genes e aqueles que deveriam se autodestruir na situação de estarem danificados. O indivíduo pode nascer com defeitos parciais em alguns desses genes. Fatores ambientais podem, durante a vida destes indivíduos, contribuírem para completar o dano genético, e predispor ao crescimento tumoral.

Imagem demonstra a célula (à esquerda), onde estão presentes os cromossomos (ao centro), dos quais identificamos o material genético – DNA (à direita)

Os fatores ambientais podem ser a única causa que leva ao dano genético, porém não sabemos porque alguns indivíduos desenvolvem tumores e outros não, em um mesmo contexto ambiental.

Quando uma célula se divide, existem mecanismos que checam esse crescimento, para que ele não seja acentuado. Se esses mecanismos são danificados, a célula continua crescendo e se torna um tumor. Outra possibilidade de crescimento tumoral gira em torno da atuação do nosso sistema imune (mecanismo de defesa, como as células induzidas pela vacina para proteger contra os agressores). O sistema imune deve detectar as células anormais e às destruírem, antes que cresçam erroneamente. No entanto, alguns tumores produzem substâncias que bloqueiam a atuação do sistema imune em reconhecer a célula tumoral como algo estranho, permitindo seu crescimento.

Os tumores por si só são capazes de produzirem substâncias chamadas fatores angiogênicos, que promovem o crescimento de novos vasos sanguíneos, que serão capazes de oferecer oxigênio e nutrientes para o crescimento tumoral.

Postula-se que pessoas que são expostas à algum tipo de radiação ionizante, como radioterapia para tratamento de câncer, apresentam um risco maior de desenvolver tumor cerebral, bem como pessoas que possuem familiares de primeiro grau com histórico de tumores cerebrais ou síndromes genéticas.

Já no caso da metástase cerebral, a causa de sua existência é a presença do tumor no sítio primário (pulmão, mama, pele, etc) não corretamente tratado, o que predispõe à migração de células do local afetado até o cérebro.

Em torno dessas constatações e postulações, estudos continuamente buscam novas terapias a fim de driblar as habilidades que as células tumorais possuem de se adaptarem e de crescerem em nosso organismo.

Os sintomas mais frequentes dos tumores cerebrais

Os sintomas variam de acordo com a localização do tumor no cérebro, com a rapidez de seu crescimento e com a faixa etária a qual ele afeta. No entanto, essencialmente, os seguintes sintomas acompanham uma grande variedade de tumores cerebrais:

  • Cefaleia (pode ser mais severa na manhã ou acordar o paciente à noite)
  • Náusea ou vômito
  • Crise convulsiva
  • Tontura
  • Lentificação de pensamento
  • Confusão mental
  • Dificuldade em falar, articular palavras
  • Fraqueza em algum lado do corpo
  • Paralisia em algum nervo craniano (por exemplo: mobilizar olhar lateralmente ou verticalmente, paralisia facial)
  • Dificuldade visual ou auditiva

Diagnóstico dos tumores cerebrais

A partir dos sinais e sintomas que podem sugerir a doença, exames de imagem buscam confirmar a hipótese: Tomografia, ressonância nuclear magnética, PET scan, etc.

No entanto, o diagnóstico do subtipo tumoral é conferido após uma amostra tecidual, seja por biópsia ou após ressecção completa da lesão. Desta maneira, o patologista determinará sua benignidade ou malignidade e fornecerá a classificação para se compreender a posterior necessidade de complementação no tratamento.

Ressonância magnética de crânio demonstra lesão tumoral, demarcada pelas setas

Tratamento dos tumores cerebrais

O tratamento do tumor cerebral costuma ser cirúrgico, com ressecção, associado ou não à complementação com radioterapia ou quimioterapia. A extensão da ressecção cirúrgica varia com a localização cerebral e com a hipótese mais provável do subtipo tumoral. Após a cirurgia e com o resultado da análise histopatológica, geralmente podemos concluir o subtipo tumoral e, nesta condição, propor a sequência do tratamento (quimioterapia ou radioterapia). Cada terapia apresenta seus riscos e seus possíveis efeitos colaterais. Desta maneira, avaliamos o paciente como um todo, considerando sua idade, seu histórico de doenças prévias, sua condição clínica atual e o seu desejo e de sua família.

Referências

  • Almeida LP, Finger G, Gallo P, Cambruzzi E, Colaço CF, Rutzen AT, Ramos SWMI. Glioblastoma Multiforme de Células Gigantes: Relato de Caso e Revisão de Literatura. J Bras Neurocirurg 27 (3): 253-257, 2016. doi: https://doi.org/10.22290/jbnc.v27i3.1573
  • Brain tumors (primary) and brain metastases in adults. NICE guideline, julho 2018. Disponível em: www.nice.org.uk/guidance/ng99
  • Diretrizes diagnósticas e terapêuticas de tumor cerebral em adultos. Ministério da Saúde. Portaria nº 7, de 13 de abril de 2020.
  • Gould J. Breaking down the epidemiology of brain cancer. Nature 561, S40-S41 (2018). doi: 10.1038/d41586-018-06704-7
  • Louis, et al. The 2016 World Health Organization Cassification of Tumors of the Central Nervous System. Acta Neuropathol (2016) 131 :803-820. doi :10.1007/s00401-016-1545-1
  • National Brain Tumor Society (NBTS). Quick Brain Tumor Facts, 2018. Disponível em : https://braintumor.org/brain-tumor-information/brain-tumor-facts/
  • NCCN (National Comprehensive Cancer Network ). Guidelines for patients : Brain cancer – gliomas, 2016. Disponível em : https://www.nccn.org/patients/
  • Ostrom, Q. T. et al. CBTRUS Statistical Report: Primary Brain and Central Nervous System Tumors Diagnosed in the United States in 2008-2012. Neuro Oncol. 17 (suppl.), iv1–iv62, 2015. doi: 10.1093/neuonc/nov189

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